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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Palavras


(Gleison Gomes)

Palavras
breve ensaio das nossas emoções.

Tantas vezes fortes, tantas vezes belas,
por aí suaves,
bonitas só por elas.

Servem ao amor,
que ainda existe nesta terra.
Contudo mal ditas,
alimentam muitas guerras.

Palavras são tão vivas
que se espalham pelas vias.
Vez ou outra em versos,
manuscritos e poesias.

São a elas que eu dedico
esta parte do poema.
És princípio, meio e fim
a essência deste tema.

Não deixe sua beleza
se perder em palavrões.
Alimente sempre a vida
dentro dos nossos corações

Palavras,
breve ensaio de nossas emoções.

São elas que escrevo e ensino a escrever
tuas letras são pra mim, como fontes de beber.
A ti eu dedico o meu amor e o meu viver.

Palavras,
simplesmente palavras.

Escritos sobre as árvores e as plantas.

(Gleison Gomes)


Já faz algum tempo que as arquiteturas das casas mudaram e com elas aqueles belos terreiros floridos cheios de vida.
Era agradável ver nos quintais dos vizinhos aqueles imensos canteiros com pés de plantas, flores e hortas que serviam às necessidades de seus moradores. Algumas medicinais outras de pura contemplação aos nossos olhos.
Passear pelas ruas era ver toda essa beleza presente nas casas. Ali do lado uma sombra de monguba, enquanto do outro, uma boa conversa sempre era improvisada pelos vizinhos sentados num banco debaixo de um imenso pé de manga. Pelas calçadas Flamboyants e Bougainvilles davam um colorido especial à rua. Em cima do muro, trepadeiras brotavam destacando um verde cercado á algumas casas. Toda essa cena acontecia ao som da molecada correndo de um lado para o outro, subindo e descendo galhos, imaginando brincadeiras na esquina da rua. Tudo era bom e criativo.
Nesta época haviam inúmeras árvores frutíferas nos quintais. Goiabeira, cajueiro, jabuticabeira, pés de cana, pitangueira, mamoeiro entre outras tantas espécies que abrigavam e serviam de alimento aos pássaros que por lá voavam, gritando e cantando, aproveitando a fome para bicar seu alimento diário. Ora ou outra me deparava com uma orquestra de periquitos roendo uma frutinha aqui, outra ali. Apesar do escândalo, era sempre bom ouvi-los.
Passado alguns anos – cerca de duas décadas mais ou menos – eu me vejo andando pelas mesmas ruas daquela época. A devassidão das calçadas tomou conta dos quintais. Não há mais espaço para as plantas ou para as árvores. É horrível olhar as mesmas casas e imaginar aquilo que foram um dia. Ora ou outra eu me pergunto sobre os antigos moradores daquelas casas. Aqueles mesmos velhos vizinhos que migraram das fazendas que rodeavam a recém capital surgida. Essas mesmas pessoas que nasceram subindo em árvores, que nadaram em córregos de águas límpidas, que nos contavam com profundo conhecimento popular os nomes daqueles passarinhos. Meus nobres vizinhos que aprenderam o valor de um pé de planta, da importância da água e do reaproveitamento de materiais que certamente hoje seriam lixo. Infelizmente as gerações presentes não aprenderam com os seus antepassados. Não tiveram o gosto de bem conviver com a natureza e com a vida.
Um mero detalhe que sempre me pego questionando é pensar no que foram estes lugares antigamente e ver no que hoje representam. Basta comparar uma foto antiga destas casas e quintais para perceber que o atual cenário nos leva para um calçamento desenfreado que tomou conta destes espaços. Cimentaram a vida fragmentando-a em pedaços, derrubando plantas e árvores, arrancando gramas e sepultando a viva terra com a tampa encimentada do caixão. O que importa à maioria das pessoas é que seu quintal esteje limpo, sem poeira ou lama para não gerar incomodo. Lacraram suas casas por todos os lados passando por cima da terra o cimento impermeável da desilusão. O céu chora seco e abafado as chuvas que não se renovam. O resultado irresponsável desta atitude é o superaquecimento gerado nos quintais e nas casas pelo calor do sol, além de não permitir que a água penetre na terra para se renovar. Acostumamos-nos com isso, a conviver com as velhas enchentes que se espalham pelas ruas levando nossos pseudo-sonhos aos bueiros.
É por isso que hoje escrevo. Escrevo saudosamente procurando em minha mente a sabedoria dos meus antigos vizinhos que só aceitavam calçar parte da sua casa, para que não perdessem de forma nenhuma o contato com a terra fria e úmida do oitão. Esses mesmos sábios vizinhos que me ensinaram o nome daquelas verdes plantinhas que serviam para fazer chá para qualquer tipo de enfermidade. Estas mesmas árvores e plantas que hoje procuro no chão daquela velha casa e não as vejo. Quisera eu que meus olhos lacrimejassem toda água suficiente para vos fazer ressurgir destes escombros de pedras.
Às novas gerações que não vos ama eu replico:
O problema não são as árvores e as plantas e sim a falta que elas nos fazem.


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ausência


I

Volta e meia se encontrava conversando com sua intuição. Pensava ele nas pessoas ausentes que haviam partido e dos conselhos que estas lhe dariam em certas ocasiões.
– Se acalme grande homem, só me retirei por alguns instantes desta vida. É necessário que continues a tua caminhada.  
Foi assim que imaginou através destas poucas palavras o seu velho avô lhe dizendo com fé e ternura algo que o confortasse naquele momento.
– Saia e fortaleças o teu espírito com a vida. Olhe para o mundo e aprenda mais sobre as coisas e as transforme conforme o teu bom coração deseja.
Não havia ninguém melhor para aprender sobre o ato de viver. Por anos aprendeu a fazer as coisas pela ação do que acreditava. Em seu coração movia um pensamento solidário pelos seus semelhantes. Procurava ajudar a quem quer que seja sem desejar nada em troca. Ansioso, inquieto e calado buscava transcender o mundo em que vivia. Pensou profundamente nas constantes conversas que travava com seu avô e antes de sair lembrou:
­ – Somente vá e encontre a porta para a tenra felicidade.
Saindo, partiu para aprender com a vida.