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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Cidades Rebeldes


Ao abrir o envelope, percebeu a carta pretensiosa de Miguel Ruiz endereçada ao Ministro da Justiça. Solicitava ele ao digníssimo, como bom contribuinte, o comando da Força Nacional durante sete dias para derrubar o poder. Ao receber a óbvia resposta do não, Miguel - perseverante em suas convicções - pôs-se a recrutar nas ruas de sua cidade o povo. Diante de argumentos tão convincentes, o povo convencido e indignado, resolveu comparecer ao seu apelo no dia e  hora marcados.  Foi no exato dia em que aquele político que não acreditava em Deus foi á igreja. Temia Ele ser castrado em sua dignidade.

Miguel, feliz com aquela demonstração de tamanha força, contemplava do alto de um muro a multidão. Em seu pensamento, via a força que o povo tem para encurralar seus algozes.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Gosto da vida

Quero sentir o gosto da vida.
Não amargo,
mas livre, desinibida e as vezes um tanto quanto
solitária.

A classe periférica vai ao Shopping Center.

(Gleison Gomes)


Parafraseando o título do filme do cineasta italiano Elio Petri (A classe operária vai ao paraíso/1971) venho aqui expor minha reflexão sobre os acontecimentos e preconceitos ainda existentes, expostos nos últimos dias. Mesmo que todo mundo diga que há leis que procurem coibir todo tipo de preconceito, percebemos dentro dessa história, a nossa hipócrita sociedade dominada por uma decadente classe dominante, pela voracidade de uma mídia sedenta de audiência e pela hipocrisia dos governantes deste país. Governantes estes, responsáveis por toda esta desigualdade vivida a cada dia diante de nossos olhos.


Mesmo que ainda alguns me venham dizer que estamos melhores do que antes, o contraste entre dominantes e dominados ainda é notório. Basta olhar estes últimos acontecimentos protagonizados nos últimos dias para perceber que ainda estamos longe de uma igualdade proclamada por muitos. E nisto não quero defender A ou B, do ponto de vista dos governos mais “progressista” ou reacionário conservador que este país já teve. A questão é que estes problemas e o preconceito existente contra o pobre marginalizado da periferia vêm de séculos e séculos em nosso país. Isso sim é algo que já deveríamos ter superado há muito tempo. Entretanto nenhum governo deu conta de solucionar de fato este problema, a fim de dar dignidade de fato aos excluídos deste país. Educação, Saúde, Segurança, Lazer e Cultura sempre foi propaganda enganosa no Brasil. Aliás, ninguém quer solucionar, pois talvez seja mais fácil investir em estádios de futebol (e dar dinheiro à FIFA) ou de gastar o dinheiro público em reformas de rodovias, por exemplo, e depois entregar á preço de banana para iniciativa privada faturar sobre a dolorida vida dos trabalhadores desta nação. E viva o pedágio. 


Mas a questão que me trouxe escrever aqui é demonstrar que os episódios se repetem. Recentemente assisti o documentário “Hiato” (2008) do diretor Vladimir Seixas. Este vídeo, gravado após 8 anos do episódio, nos mostra a ocupação de um shopping do RJ em 2000, por vários moradores da periferia do Rio e membros do movimento dos sem teto. Ao assistirmos parece ser toda repetição do que estamos vivenciando neste momento. Ao comparar os fatos, percebe-se novamente que, após 14 anos, a coisa continua a mesma. Os problemas sociais e de preconceitos ainda são muito fortes dentro do ser humano. Numa fala do filme, talvez o que mais me chamou a atenção, é o fato de uma das participantes, totalmente lúcida de sua atitude, verificar que esperava tudo da polícia, dos donos das lojas e de todo tipo de retaliações que obtiveram, mas na opinião dela, foi estar estarrecida com o olhar de desprezo dos próprios trabalhadores do shopping. Coisa que pra ela, ninguém havia pedido que tais pessoas agissem desta forma. Coisas do ser humano e de um processo de falta de consciência coletiva sobre os processos de dominação e exploração em nosso país. O filme é ótima recomendação para olharmos o sentido em que a vida vem tomando por conta da nossa imobilidade e aversão política, reproduzindo as idéias e os jargões muitas vezes conservadores e dominantes em nosso meio. 

No entanto, ao em expressar aqui e mesmo tendo muito pra falar, fico aqui com estas indagações e questionamentos, compartilhando minha indignação contra nossa sociedade, contra nossos governantes e contra nós mesmos, esperando de fato que a periferia não vá somente aos shoppings centers (ato mais do que justo como forma de protesto), mas que se aproprie de uma discussão política ampla que assuma de fato uma transformação social geral nas bases de sua estrutura, a fim de combater todo tipo de exploração e preconceito existente. Por fim, compartilho o vídeo, disponível no youtube pra quem interessar.

http://www.youtube.com/watch?v=UHJmUPeDYdg