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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Comentários

Pessoal, muito obrigado pelas visitas ao blog. Tenho recebido um número muito grande de visitações durante os meses, principalmente neste último mês de junho.

Peço que deixem seus comentários para que eu avalie o conteúdo do blog. Podem postar suas críticas e elogios sinceros. Estamos abertos para o diálogo sadio.

Abraços a todos e todas os/as visitantes.

Gleison Gomes

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dia Incomum

(Gleison Gomes)

Um dia esqueci do trabalho.

Saí pela vida enriquecendo-me de velhos amigos,
antigas manias, das ruas de terra e do meu pé
de Amora.

Eu tinha consciência destes  atos,
mas não da grandeza de onde poderiam me levar.
Eu redescobri a vida.

No dia em que esqueci do meu trabalho,
eu vi o sol se pôr.

Ao lado de Amora,
senti vontade de viver.
Cada dia, cada hora, cada instante.

Esquecimento

(Gleison Gomes)
Foi um dia qualquer. Levantou-se da cama cheio de vida. Respirando fundo e demonstrando uma disposição raramente visto nas pessoas, saiu do quarto, passou pelo banheiro a se arrumar e caminhou para a cozinha. Deu um beijo em sua mãe e pôs-se a comer uma bela fatia de bolo com café.
De longe ouviu o canto dos pássaros que passavam por ali toda manhã. Saiu pela área e lembrou das plantas que cercavam aquela casa. Viu naquele mesmo instante a oportunidade que há muito tempo não costumava fazer: molhar as plantas. Lembrou das Samambaias, da Jibóia, das Sete Ervas, do Amor Perfeito e de outras tantas plantas que não prestava mais sua contemplação. De longe, um olhar encabulado de sua mãe a observar.
Pegou sua bicicleta e saiu pela rua a pedalar. Tinha em mente visitar as pessoas que conhecia. Primeiramente foi até a casa da Raimunda para saber notícias. Lá, olhou o pé de manga que tantas vezes tinha subido quando criança. A horta estava verde, bonita como sempre.
Sobre uma velha mesa de madeira, ao lado da dona Fia e da Mundinha, soou uma conversa boa, que há muito tempo não tinha com aquelas idosas. Coisas lá do Norte. Lembranças da carne seca, do cuscuz com leite de coco, da tapioca com manteiga do sertão, da música de Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro. Quantas coisas, pensava ele, deixara de viver.
 De longe viu chegando o seu Leônidas trazendo em suas mãos um pedaço de queijo coalho que havia trazido de uma recente viagem que fez a Mossoró.  Ficou sabendo por meio dele das tias que se retiraram para aqueles lados. Conceição e Dona Isabel haviam se habituado bem por lá. Não pensavam mais em voltar a não ser por passeio. Mandaram-lhe um cartão com a foto de Padre Cicero Romão, desejando a todos nós muita saúde e Deus no coração. Deu vontade de chorar. Quantas saudades despertou. Jogou mais uns minutinhos de conversa fora e naquele momento se despediu do povo seguindo seu caminho. Ainda haveria um grande dia a aproveitar.
Pedalando pelas ruas tranqüilas daquele bairro, avistou na rua São Sebastião um grande amigo. Parou e se abraçando ao velho amigo Waltinho, despertou em sua mente novas lembranças da infância. Era uma época em que os dois colecionavam discos de vinil. Passavam horas e horas da semana garimpando discos raros pelos sebos da cidade. Boas lembranças que acabaram levando-o para a casa do Waltinho, na hora do almoço.
Chegando, ligaram o velho Gradiente e puseram-se a ouvir um clássico do Raulzito. A música era Ouro de Tolo.
“Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...”
Sentiu graça ao ouvir esta música, pois incomodava-lhe algo que havia esquecido. Deixou pra lá, não fez questão de lembrar. Seguiu para a mesa onde a comadre Ilda servia o almoço. Sentiu o gostinho caseiro da comida que não comia há tempos por causa da rotina. Era um bife acebolado com um arrozinho branco e um feijãozinho de caldo grosso. Mais simples, impossível. Era tudo que desejava. Juntos, ali na mesa, lembraram causos e histórias da escola, da rua, das menininhas que conquistavam com suas conversas e do trabalho que davam a dona Ilda quando garotos. Todos riam lembrando de tantas coisas que se passaram pela vida. A tarde foi curta pra colocar tanta conversa em dia e para ouvir tantos outros discos raros que haviam por ali. Mas ele tinha que ir embora. Mais uma vez se despediu do amigo prometendo voltar outro dia. Saiu com sua bicicleta.
Subindo ás ruas, ouviu seu telefone tocar. Era Amora o seu grande amor. Trocaram conversas e resolveram se encontrar perto da faculdade onde estudavam para ver o por do sol. Lá era o lugar perfeito para contemplar tamanha grandeza da natureza.
Chegou ao lugar, deixou sua bicicleta de lado e abraçando Amora, sentou no chão batido de terra e de grama rala. Dizia do maravilhoso dia que havia tido. Falou das suas lembranças da infância, do encontro com os amigos, do sentimento que sentiu e do mágico momento que ali estava ao lado dela. Lembrava de muitas coisas que havia feito pela vida. Porém, havia um incômodo esquecimento em sua cabeça. Não se lembrava do que era. Nem tão pouco fazia questão de esforçar-se para lembrar.
Ficou ali com ela no silêncio. Abraçados, contemplaram o sol se pôr no horizonte, levando o dia. Aquele lindo e belo dia em que se lembrava de tudo, menos que teria que trabalhar.


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dráuzio Varella

"No mundo atual está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do Mal de Alzheimer...Daqui a alguns anos, teremos velhas de seios grandes e velhos de pinto duro, mas eles não se lembrarão para que serve."

Amanhã ou Depois

(Gonzaguinha)

Meu irmão amanhã ou depois,
A gente retorna ao velho lugar
Se abraça e fala da vida que foi por aí
E conta os amigos nas pontas dos dedos
Pra ver quantos vivem e quem já morreu

Amanhã ou depois

(Luiz Gonzaga do Nascimento Jr)

Inimizades

Por um lado, ter um inimigo é muito ruim. Perturba nossa paz mental e destrói algumas de nossas coisas boas. Mas, se vemos de outro ângulo, somente um inimigo nos dá a oportunidade de exercer a paciência. Ninguém mais do que ele nos concede a oportunidade para a tolerância. Já que não conhecemos a maioria dos cinco bilhões de seres humanos nesta terra, a maioria das pessoas também não nos dá oportunidade de mostrar tolerância ou paciência. Somente essas pessoas que nós conhecemos e que nos criam problemas é que realmente nos dão uma boa chance de praticar a tolerância e a paciência.

(Dalai Lama).

Comodismo

(Gleison Gomes)

Alguma coisa nova?
Na verdade não.
Todas as coisas são as mesmas,
e adiante neste mundo, só me cabe aceitá-las.

Procuro a paz onde não existe,
a compaixão de longe está emoldurada numa lápide dizendo que jaz morreu.
A humildade se encontra embaixo dos implacáveis pés da arrogância,
já não consegue mais sair.

A preguiça de pensar e de se sensibilizar tomou conta deste povo.
Aceito a fome, a miséria, a covardia, o abandono,
a corrupção, a intolerância.
Tudo isso pra não dizer de outras coisas que por aí acontecem
e que já não mexem mais comigo.
Já não consigo mais falar.

Minha voz está rouca perante os ouvidos insensíveis deste mundo.

Eu mereço
Tu mereces
Ele merece
Nós merecemos.
Vós mereceis
Eles merecem.

Sobre tudo isso:
Será que só me resta aceitar este triste fim?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Água de Beber

(Gleison Gomes)

Foi na construção de Brasília.
Era comum semanalmente aparecer entre aquelas vastas avenidas de terra, sempre alguma personalidade testemunhando este grande feito. Artistas, políticos, curiosos e empresários passavam muitas vezes por aquele empoeirado chão do cerrado goiano para ver tamanha ousadia. O que se via era trabalhadores oriundos de várias partes do país, labutando seu suor naquilo que seria o maior reduto da política brasileira.
Numa destas viagens, dois grandes compositores da época, resolveram á convite do arquiteto da obra, espiar de perto o sonho daquilo que diziam impossível. Da capital, voaram rumo ao planalto central aterrisando num campo de pouso improvisado. Numa velha camionete entre as árvores retorcidas, saíram pelas ruas a conhecer as obras durante toda aquela tarde.
Suas constantes conversas com o povo, entrosando ladainhas e lorotas ao fim do dia, lhe renderam um razoável conhecimento sobre as obras em construção. Foi numa destas conversas que ao avistarem uma bica jorrando água perguntaram:
– O que é aquilo?
Olhando para trás, para onde o poeta apontava o dedo, um trabalhador nordestino replicou:
– Aquilo? Aquilo é água de beber camarada.
Estas célebres palavras nunca mais sairiam de suas mentes.
Ao trabalhador, sem saber quem eram aqueles homens, jamais imaginou que aquelas simples palavras se eternizariam como um canto poético pelo mundo inteiro.
E assim se sucedeu...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

PoNtES

(Gleison Gomes)

DIstaNteS cAminHos
que Me liGam ao SuRrEal.

RuAs ONde EnXerGO
poEsias.
AndANDo  Em TuAS pEdRAs,
BuSCandO SaBedorias.

Por CImA DesTAS PonTes,
ProcUro estEs VerSoS.
PLEnO AlívIO dOs PoeTas
InsPIRaÇÃo DiVIna que ProVém Das tuAs FOntEs.

INcAnsáVel  busCA Da aLma HumAna!

Na POEsiA,
A VidA
dIfeRente da ReAl

POdres PodeRes

(Gleison Gomes)

Insólito desejo de mudança.
Vejo estes velhos homens de ternos sujos
arrogando falhas mentiras sobre a vida das pessoas.
Quanto tempo ainda vamos ter que esperar?
Fétidos poderes que emanam da corrupção,
que por enquanto não tem poder
de acender
nossa
indignação.

Um dia ainda há de chegar...