Parafraseando o título do filme do cineasta
italiano Elio Petri (A classe operária vai ao paraíso/1971) venho aqui expor
minha reflexão sobre os acontecimentos e preconceitos ainda existentes, expostos nos últimos dias. Mesmo que todo mundo diga que há
leis que procurem coibir todo tipo de preconceito, percebemos dentro dessa
história, a nossa hipócrita sociedade dominada por uma decadente classe
dominante, pela voracidade de uma mídia sedenta de audiência e pela hipocrisia
dos governantes deste país. Governantes estes, responsáveis por toda esta
desigualdade vivida a cada dia diante de nossos olhos.
Mesmo que ainda alguns me venham dizer que estamos
melhores do que antes, o contraste entre dominantes e dominados ainda é
notório. Basta olhar estes últimos acontecimentos protagonizados nos últimos
dias para perceber que ainda estamos longe de uma igualdade proclamada por
muitos. E nisto não quero defender A ou B, do ponto de vista dos governos mais
“progressista” ou reacionário conservador que este país já teve. A questão é
que estes problemas e o preconceito existente contra o pobre marginalizado da
periferia vêm de séculos e séculos em nosso país. Isso sim é algo que já
deveríamos ter superado há muito tempo. Entretanto nenhum governo deu conta de
solucionar de fato este problema, a fim de dar dignidade de fato aos excluídos
deste país. Educação, Saúde, Segurança, Lazer e Cultura sempre foi propaganda
enganosa no Brasil. Aliás, ninguém quer solucionar, pois talvez seja mais fácil
investir em estádios de futebol (e dar dinheiro à FIFA) ou de gastar o dinheiro
público em reformas de rodovias, por exemplo, e depois entregar á preço de
banana para iniciativa privada faturar sobre a dolorida vida dos trabalhadores
desta nação. E viva o pedágio.
Mas a questão que me trouxe escrever aqui é
demonstrar que os episódios se repetem. Recentemente assisti o documentário
“Hiato” (2008) do diretor Vladimir Seixas. Este vídeo, gravado após 8 anos do
episódio, nos mostra a ocupação de um shopping do RJ em 2000, por vários
moradores da periferia do Rio e membros do movimento dos sem teto. Ao
assistirmos parece ser toda repetição do que estamos vivenciando neste momento.
Ao comparar os fatos, percebe-se novamente que, após 14 anos, a coisa continua
a mesma. Os problemas sociais e de preconceitos ainda são muito fortes dentro
do ser humano. Numa fala do filme, talvez o que mais me chamou a atenção, é o
fato de uma das participantes, totalmente lúcida de sua atitude, verificar que
esperava tudo da polícia, dos donos das lojas e de todo tipo de retaliações que
obtiveram, mas na opinião dela, foi estar estarrecida com o olhar de desprezo
dos próprios trabalhadores do shopping. Coisa que pra ela, ninguém havia pedido
que tais pessoas agissem desta forma. Coisas do ser humano e de um processo de
falta de consciência coletiva sobre os processos de dominação e exploração em
nosso país. O filme é ótima recomendação para olharmos o sentido em que a vida
vem tomando por conta da nossa imobilidade e aversão política, reproduzindo as
idéias e os jargões muitas vezes conservadores e dominantes em nosso meio.
No entanto, ao em expressar aqui e mesmo tendo
muito pra falar, fico aqui com estas indagações e questionamentos,
compartilhando minha indignação contra nossa sociedade, contra nossos
governantes e contra nós mesmos, esperando de fato que a periferia não vá
somente aos shoppings centers (ato mais do que justo como forma de protesto),
mas que se aproprie de uma discussão política ampla que assuma de fato uma
transformação social geral nas bases de sua estrutura, a fim de combater todo
tipo de exploração e preconceito existente. Por fim, compartilho o vídeo,
disponível no youtube pra quem interessar.
http://www.youtube.com/watch?v=UHJmUPeDYdg
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