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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Reflexões aos educadores de Goiás

Sobre o Comodismo e a nossa indignação.
(Gleison Gomes)

“Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida.”
Esta importante frase atribuída ao grande comandante da Revolução Cubana Ernesto Guevara de La Serna, nos incita a refletir profundamente sobre os caminhos que nossas vidas vêm assumindo no seio da sociedade em que vivemos.
Notoriamente percebo no (in)consciente coletivo, a apatia e o comodismo que foram tomando conta de nossas vidas, tornando esquecidas nossas virtudes e a nossa capacidade de sonhar e lutar durante o decorrer da história.
Considero no mínimo desesperador ver no dia a dia de nossas apagadas vidas, a aceitação de todas as mazelas sociais, econômicas, espirituais, filosóficas e políticas presentes em nossa realidade. Preocupamos-nos tanto com o individualismo que nos permeia, que assim agindo, deixamos para trás as raras oportunidades da construção do coletivismo e da solidariedade de classe que tanto necessitamos. Tal fato, só induz ao reducionismo dos nossos sonhos coletivos, da nossa liberdade e da esperança que nos movimenta, nos isolando sem perspectivas de mudanças em nossa realidade material concreta.  A meu ver, a apatia e o comodismo são um mal que necessita mais que urgentemente ser extinto de nossas vidas, devendo ser substituída pela coragem e a ousadia, entorpecendo definitivamente desta forma, as estruturas mais complexas de nossas mentes.
Exemplificando melhor um breve panorama sobre este ensaio, analisemos uma rápida reflexão sobre a nossa categoria de profissionais da educação aqui no município de Goiânia.
Quantos de nós, diga-se de passagem, estamos cansados de reclamar com nós mesmos sobre as diversas injustiças que hoje nos são atribuídas? A questão dos baixos salários, a falta de estrutura de trabalho presente em muitas escolas do país, a indisciplina e a violência dos alunos e da sociedade, a descrença nos pseudos representantes sindicais da educação e o descaso dos gestores públicos e políticos com a educação, são parte de conversas em muitos momentos na escola. Pesares dores a parte, sem nenhuma discordância sobre tais questões que são motivos de nossas angústias, tenho em mente que só poderemos superá-las quando fizermos em nós mesmos uma revolução interna de nossas atitudes e pensamentos.
Na singela opinião que vos apresento, vejo que muitos profissionais da educação perderam sua capacidade de sonhar, de acreditar nas mudanças, de lutar coletivamente pelos seus objetivos, de ver o sentimento de esperança em nossa frente e o pior de todos os defeitos que considero: a de viver.
Recentemente na desgastante, porém incomodante greve que fizemos paralisar quase 100% da rede municipal de Goiânia, percebi em muitas escolas por onde passei juntamente com outros lutadores da educação, que boa parte dos professores acabaram se deixando tomar pelo medo, pelo comodismo e pela apatia de ir á luta. Nestas escolas, um dos casos marcantes em minha mente, foi a de um professor que trabalhava numa escola da região leste, que após o retorno das férias de julho – mesmo com a decisão da categoria em manter-se em greve – nos disse em conversa com o coletivo de sua escola, que não tinha mais sonhos, esperanças ou fé na vida de que estas coisas poderiam ser mudadas. Demonstrou-se apático em relação a qualquer mudança ou transformação em sua própria vida. Entristeceu-me e ao mesmo tempo me indignou saber que tal educador pudesse pensar assim a vida. E mais do que isso, pensar que através deste péssimo hábito de olhar a vida, seu exemplo pudesse atingir a mente de seus próprios alunos, contaminando-os com a hipocrisia presente na maioria de nós.
São perceptíveis aos nossos olhos que muitos fatos levaram ao medo e a apatia dos professores. Desde a inatividade de muitos professores, até os motivos de ordem financeira por conta do corte de ponto, da perca do emprego (ou da dobra) e da descrença que através da greve não poderiam obter nenhum resultado positivo para a categoria, o que de fato não é verdade. Aqui cito somente alguns dos mais diversos medos difundidos com tremenda velocidade por nós ao longo desta luta.
Não os julgo por tais atos. Porém, não posso deixar passar despercebido a estas pessoas como a difusão de seu medo contagiou em pouco tempo a maioria dos educadores. Percebi como é difícil para um grande grupo que se propôs a entrar de pés e cabeça nesta luta, contagiar seus semelhantes com a coragem, a ousadia e a fé que poderia nos levar a tão esperada vitória da nossa categoria. Não podíamos ter desistido, pois mesmo diante de tantas adversidades, ficaram marcados em nossas mentes notáveis momentos dos atos que incomodaram as autoridades políticas e administrativas da nossa cidade.
Eles, acostumados a sempre serem aplaudidos pelo povo, não esperavam por um grito de cobrança por suas omissões diante de uma educação precária em nosso município. Deparamo-nos em diversas ocasiões frente ao prefeito e à secretaria de educação, reivindicando nossas bibliotecas, nossas salas de informática, nosso piso salarial, mais concursos públicos, os planos de carreiras para os agentes educativos de Cemeis e funcionários administrativos, além de outros pontos de pauta.
Como era gratificante ver nos rostos da politicagem barata do prefeito e da secretaria, um semblante de terror diante da situação constrangedora por qual tinham que passar. Por muitas vezes durante estes meses que sucederam as nossas ações, muita gente teve que ver, ouvir e engolir a nossa única arma: nossos cartazes e o grito das nossas vozes.
Para mim, como faziam falta a participação massiva dos quase 15 mil funcionários da educação de Goiânia para engrossar o coro das vozes em busca daquilo que nos propusemos a lutar desde o dia 20 de maio. No inicio era muito contagiante a indignação e a insatisfação de todos em relação aos direitos perdidos ao longo dos anos desta gestão administrativa. Porém, esbarramos em um detalhe crucial, ao sermos iludidos á acreditar que nossas reivindicações seriam somente atendidas por meio dos parlamentares na câmara municipal. Levamos uma lavada feia dos vereadores e do prefeito, que no último dia do mês de junho fez com que fosse aprovada o projeto de piso salarial de R$ 1.024,00 por 30 hs. Fomos desacreditados neste momento de refluxo dos professores por conta das férias, a deixar de lado as reivindicações e manifestações de rua, para nos iludir com o discurso do sindicato de pressionar os vereadores para aprovar o projeto defendido pela categoria desde o começo da greve. Aprovado o projeto, desistimos da luta por considerar que a justiça decretou a ilegalidade das nossas ações, não havendo para muitos mais caminho a prosseguir.  
Infelizmente, desde cedo aprendemos um mal que vai seguindo nossos passos pelo resto de nossas vidas: a de achar que sempre aparecerá um grandioso herói para nos salvar de nossos problemas. Desde pequenos aprendemos a estar sobre proteção de alguém. Você já refletiu e pensou nos desenhos de super heróis que acostumamos a assistir quando pequenos e que chegam sempre na hora das nossas dificuldades para resolverem aquilo que julgamos não dar conta de solucionar sozinho ou coletivamente. Isso se assemelha quando em nossa luta, depositamos a nossa confiança em pseudos representantes da categoria e da politicagem eleitoreira, desacreditando na nossa possibilidade de juntos fazermos coisas grandiosas e reconquistar nossos direitos perdidos.
O pior é que diante de tantas pessoas que fazem à educação neste país, ainda não percebemos a força que temos em nossas mãos, preferindo em muitas ocasiões se contaminar com o medo, a apatia, o comodismo, a covardia que ora difundimos com veemência aos nossos colegas que ainda estão em processo de decisão.
Caminhando para finalizar este breve ensaio, voltemos á frase inicial de Ernesto Guevara: “Sonhas e serás livres de espírito... Lutas e serás livre na vida. Estas palavras, me fazem refletir profundamente o quanto precisamos ainda evoluir pessoalmente e coletivamente para alcançarmos aquilo que consideramos justo por nossa tarefa de educar.
Deixar de queixar-se primeiramente por conta da repressão e pelo peso da reposição vinda por parte da secretaria de educação, repetindo em ocasiões que não fará mais greve por conta destes desajustes, deve ser o primeiro passo. Se queremos ser livres de fato e um dia conquistar a tão almejada liberdade e autonomia na educação, devemos nos libertar primeiramente de nossas atitudes e pensamentos derrotistas, se empolgando definitivamente com a coragem e a ousadia de nossos sonhos para a luta. Se hoje há um pesado fardo em nossas costas por conta do nosso ato em lutar, mais do que nunca necessitamos de empreendermos na organização da nossa luta, de forma a voltar o cipó de aroeira no lombo de quem está a nos castigar, como cantou o grande músico e compositor brasileiro Geraldo Vandré em tempos de ditadura. Por fim, convoco a todo nosso povo para irmos á luta, para mantermos viva a chama acesa da nossa indignação, acreditando que nada é impossível de mudar.

“Quem tem consciência para ter coragem?”
(Secos e Molhados)

(Dezembro de 2010)

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